sábado, 27 de julho de 2019

Lembra daquele jantar na sua casa? Vocé quebrou todas as taças. Tesão no topo. “Essas taças são caras demais para serem que a quebradas” - pensei. Corpo latejando. Puta que pariu. “Quero que você me chupe devagar”. Até que fazia tempo que eu não ficava tão louca.
 O meu gosto é algo entre entre o salgado e o gosto do céu.
Quero que você me foda devagar... Bem baixinho, fazendo-se gemendo cada vez mais no seu ouvido.
Até ver as estrelas, até pegar o metrô, até ver os vizinhos dando “bom dia!” e até eu me lançar na  minha cama. Que nem tinha tanto espaço pra nós dois assim.

sábado, 13 de julho de 2019

Algodão doce

Cheguei em casa tão cansada que tirei a roupa e deitei na cama. Acordei duas horas depois morrendo de frio e com uma mensagem de um colega de trabalho dizendo que eu esqueci de mandar um e-mail.
Essas duas horinhas me custariam uma noite de sono saudável. Já me imaginava virando pra lá e pra cá tentando dormir de novo. “Só gente muito idiota se deixa vencer pelo sono chegando em casa as 19:00”, pensei. “Raquel, Raquel... Às vezes sua mediocridade me impressiona”, falei em voz alta enquanto ia pegar uma água. De longe, ouvia uma festa no vizinho com uma música animada. Senti um pouquinho de inveja... Queria tomar uma cerveja com alguém, contar como foi o meu dia, as minhas frustrações, sei lá. Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz esganiçada cantando a plenos pulmões em um karaokê improvisado.
A noite foi surpreendentemente produtiva: fiz um trabalho de faculdade chatíssimo, passei um café, liguei pra minha mãe pra ouvir “tô com saudades”.
Até que, mexendo no celular, vi uma foto sua postada por acaso em uma rede social qualquer. Analisei a sua expressão e pensei “até que você não mudou muito”. Continuava lindíssima: olhos penetrantes, o contorno da boca bem desenhado e usando esses batons que você adora ou adorava, não sei. Li a legenda com a sua voz. Não consigo imitar sua voz (e olha que eu adoro imitar vozes!), mas ela é tão vívida na minha memória, sabia? E eu até queria ter sentido ciúmes, queria ter sentido uma pontada no peito por não ser a destinatária desse sorriso, mas não senti nada. Nadica de nada. Só um vazio no peito a ser preenchido com um algodão doce que eu ganhei esses dias em uma festinha de criança.

sábado, 27 de abril de 2019

Pessoas otimistas sempre acreditam que tudo vai dar certo

Eu não gosto muito de mudanças. Eu acho que chega a ser um pouco chocante ouvir isso, já que não é usual alguém admitir que não gosta de mudanças. Aparentemente a explicação está nos astros: meu mapa astral muitos aspectos no signo de Touro.
Uma das lembranças mais recorrentes da minha infância eram as mudanças que a minha mãe fazia na disposição dos móveis da casa. Quando a disposição dos móveis deixava de ser nova e se tornava aconchegante e familiar, ela resolvia trocar tudo. Como sempre moramos em lugares pequenos, ela media o tamanho dos móveis com a palma da mão. E nem sempre dava certo porque essa medida não é exata, né? E aí pra desfazer a mudança porque as coisas não encaixaram era uma tristeza só. Um desperdício de força, de tempo e de energia.
Esses dias eu li que pessoas que chegam sempre atrasadas são pessoas otimistas. Elas acreditam que tudo vai dar certo naquele pequeno espaço de tempo que foi calculado mentalmente. Isso significa que se um dia o trânsito tava ótimo e o trajeto pro escritório durou quinze minutos, esse é o tempo-base de duração do trajeto que irá se fixar na cabeça dessa pessoa super otimista. Quinze minutinhos. E aí você tem que chegar se desculpando no escritório, afinal, coisas acontecem. Você torce o pé, você esquece o crachá, o trânsito dá um nó porque os sinais estão desligados, etc. E lá se foram quarenta minutos e você não chegou.
Já a minha irmã é virginiana, sabe? Metódica toda vida, calcula friamente cada probabilidade das coisas darem errado, mede centímetro por centímetro na régua. Eu diria que ela não é das mais otimistas, mas certamente é uma das mais preparadas. Nada pode dar errado e nada dá errado. Nunca.
Sempre gostei da sensação de imaginar que eu sou a pessoa que pensa em todos os detalhes, todas as possibilidades, todos os prováveis cenários. Mas eu acho que sou caótica demais pra ser assim.
Saí de casa tem alguns meses e fui morar em um lugar muito pequeno. Daqueles que você nem imagina que existem por aí. E aí desenhei no papel todas as formas que eu poderia organizar os móveis em meu novo lar. Escolhi a minha favorita e fiz. Só que depois aquela organização estava incômoda. Resolvi que queria minha cama em um canto específico (que não estava no papel) e esqueci de pensar na disposição demais móveis. Peguei a trena e comecei a anotar no celular todas as medidas, até que fiquei impaciente e decidi arriscar na sorte. Virei a minha mãe e não é que ficou tudo bem? Pessoas otimistas sempre acreditam que tudo vai dar certo.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

O cabelo

Em um bar na Lapa, eu estava em um encontro. Em um primeiro encontro, aliás. Nota mental: Tirar um tempo para escrever sobre primeiros encontros. Papo vai, papo vem, até que em algum momento a mulher da mesa ao lado vira com uma expressão muito séria e diz:

— Posso te falar uma coisa?
— Claro! – abri um sorriso.
— Desde que você chegou eu estou extremamente incomodada com a sua presença.

Meu coração disparou. O que ela queria dizer? Será que estaria incomodada porque eu estava nitidamente flertando com uma mulher? Talvez meu estilo de me vestir? Minha cor? São tempos de ódio em que vivemos.

— C-como assim? – dei um sorriso amarelo.
— É que eu não aguento mais olhar pra esse seu cabelo lindo! Essa cabeça cheia de cabelo tá me deixando morrendo de inveja… Inveja mesmo! Com todo o respeito, olha essa a mixaria que eu tenho! – ela mostrou o próprio cabelo.
— Ah… Mas não é bem assim!
— É sim, mas fazer o que? Deus agraciou mais algumas pessoas que outras. Só me resta aceitar, te admirar e pedir pra vir igual a você na próxima vida. Desculpa pelo susto, tá? É que eu precisei tomar umas cervejas pra tomar coragem.

Alguns dias são surpreendentes.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Tem alguém aí?

Acordei atrasada para uma aula em que eu não poderia ter atrasado. Porque eu atrasei em todas as outras e, né, fica feio. Passei na farmácia, comprei um Nimesulida para tentar aliviar os sintomas de uma inflamação na garganta e peguei um ônibus rumo a universidade.
Enquanto estava no ônibus, eu pensava se haveria alguma forma de curar a minha impontualidade nata. Será que a hipnose seria capaz de curá-la? E, de repente, lembrei que alguém disse que eu deveria escrever um livro. Certamente eu não saberia por onde começar ou como estruturar. Minha forma de organizar as coisas é uma bagunça, o que é um reflexo do meu eu interior.
E aí eu pensei que eu não só não escrevi um livro, como também parei de ler livros que não sejam vinculados a vida acadêmica. Parei de ler por prazer. Parei também de ir aos meus lugares favoritos que eu tanto adorava e percebi que a minha vida andava insossa demais. De repente, com um por centro de bateria no celular, me bateu uma vontade imensa de escrever. O ônibus trepidava e eu não poderia rabiscar no caderno.
A única alternativa possível: Desci no próximo ponto e peguei um ônibus em direção ao trabalho, para ter acesso a um computador e assim colocar pra fora todas as histórias que eu deixei de contar. E olha que eu sempre tive um monte de história pra contar. Estou de volta.